“Irmão de igreja
não é a mesma coisa que irmão de sangue”. Essa foi a frase proferida por uma
senhora, na ocasião em que fora visitar sua irmã mais nova. Na verdade, as duas
já passaram da casa dos setenta anos. Sempre foram muito unidas, até o dia em
que a mais nova resolveu batizar-se numa igreja não-católica. Não está em
debate o nome da denominação religiosa, mas sim, a maneira como essas
instituições ditas “extensões do reino de Deus na terra” se comportam com seus
ensinamentos.
As conversões ocorrem
de diversas maneiras. No caso dessa senhora da minha história, foi porque ela
ficou doente, depois de bênçãos e orações de membros da igreja, a idosa se
sentiu curada. Ela agora acredita que a salvação está naquela igreja e que seus
membros, agora chamados de “irmãos”, são os homens mais poderosos da terra.
Acredita ainda, que os mesmos têm o poder de ligar na terra o que Deus ou seus
Anjos ligam no céu.
O fato ocorrido na
ocasião da visita da idosa da minha história de hoje, é típico e corriqueiro das
famílias onde um dos membros é converso e o outro não. A mais nova se chama Elisabete
e a mais velha Elisângela. As duas moram numa cidade grande, onde os meios de
locomoção são complexos e demorados. Como não são ricas, usam o ônibus para se moverem
de um bairro a outro. Quando Elisângela chegou à casa da sua irmã mais nova, a
mesma não pôde dar-lhe a devida atenção, pois estava se arrumando e se vestindo
para ir a um culto ou reunião da sua igreja. Ultimamente, ela não tem mais
tempo para visitar seus parentes, só tem olhos para a sua igreja e sua doutrina
aliciadora. Por mais que alguns tentem demovê-la do contrário, agora ela é
outra pessoa. Age diferentemente e não pára de repetir ser “conhecedora da
verdade”. Ainda afirma que vai morar com Jesus.
Eu também passei
por uma situação parecida nos meus idos tempos de mormonismo. Foi assim, no dia
do meu casamento. O Presidente de Ramo que estava confirmado para realizar a
nossa cerimônia não apareceu, pois tinha uma reunião numa capela de Belém do
Pará. Reuniões da igreja em primeiro lugar. Famílias ou compromissos vêm em
seguida. Eu mesmo, depois de convertido à seita, deixava as minhas visitas
constrangidas por causa das reuniões da igreja. Muitas vezes, recebi visitas
nos dias e horários dessas reuniões. Eu agia de forma grosseira e sem perceber,
por causa da força doutrinária que estava me possuindo naqueles tempos, dava um
jeito ou uma desculpa e ia para a igreja.
Lembro-me que na
Igreja Mórmon, muitas vezes, os membros relatavam situações parecidas. Eles
alegavam que aquilo era obra de Satanás, que queria que nós membros na época,
não fôssemos para a igreja, por isso, como ele tinha influência e poder sobre as
pessoas não batizadas, enviava-as nas casas dos membros da igreja, bem no
horário das reuniões. Quantas bobagens!
Até compromissos de
trabalho eu burlava por causa dos compromissos na capela da Ala ou Estaca.
Perdi muitas oportunidades de trabalho ou profissionais por causa dessa maneira
de agir. Como sempre, eu culpava o pobre do Satanás, que não tinha nada a ver
com isso. A culpa era da doutrina e dos líderes da Igreja.
Esses irmãos da
igreja, no fundo não foram mais importantes do que os irmãos de sangue. Quando
comuniquei a minha decisão de desligar-me do mormonismo, todos os chamados
irmãos se afastaram rapidamente da minha presença, literalmente, como o diabo
foge da cruz. Afastaram-se da minha vida e da minha casa. Quando eu era membro,
muitos me visitavam. O convívio era constante, mas depois do meu desligamento,
toda a afinidade se perdeu. Desapareceu. Por isso, pensem bem irmãos de qualquer
igreja, seja ela qual for: Irmão de Igreja não é a mesma coisa que irmão de
sangue.
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