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sexta-feira, 17 de maio de 2024

EU E O MORMONISMO

Meu primeiro contato com o mormonismo aconteceu quando eu tinha entre 10 e 12 anos, na cidade de Curitibanos, interior de Santa Catarina. Estava em casa, assistindo a um programa de televisão numa tarde qualquer da minha infância. O programa, exibido pela TV Coligadas de Blumenau, falava sobre um homem chamado Joseph Smith, conhecido como “o Profeta”, responsável pela aparição do Livro de Mórmon.

Esse canal de televisão transmitia imagens para várias regiões de Santa Catarina, incluindo nossa pequena cidade de Curitibanos, no planalto serrano. No programa, lembro-me de uma entrevista com membros d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias de Blumenau ou região. Eles mostravam algumas gravuras, incluindo a famosa gravura da Primeira Visão e outra da suposta visita do Anjo Moroni ao quarto de Joseph Smith. Depois disso, não ouvi mais nada sobre o assunto, mas fiquei intrigado: Deus e Jesus Cristo apareceram flutuando no ar para um menino? Um anjo apareceu para esse mesmo menino no seu quarto?

Quatro anos se passaram, e eu tinha agora 16 anos. Certo dia, encontrei dois missionários americanos na minha cidade. Eles não falaram de religião comigo; apenas disseram estarem fazendo uma missão e reclamaram do calor, dizendo que o clima no seu país era melhor. Não me deram nada, nem um folheto, e eu também não perguntei nada sobre a religião deles.

Meu próximo contato com o mormonismo aconteceu cerca de um ano depois. Eu trabalhava no escritório de uma indústria madeireira, saindo cedo e voltando no fim do dia para, à noite, estudar no curso de Técnico em Contabilidade no antigo Colégio Comercial Cardeal Câmara. Devia ser o ano de 1981. Certa noite, enquanto me preparava para dormir, minha mãe me disse que dois missionários mórmons haviam deixado um livro e alguns folhetos em nossa casa. Quase meia-noite, peguei o livro, olhei algumas gravuras e folhetos sobre o Testemunho de Joseph Smith e algo sobre Cristo ou o cristianismo. Falei para minha mãe que olharia o material no dia seguinte. Alguns dias depois, pedi o livro e os folhetos para ler. Minha mãe disse que os missionários pediram o livro de volta, mas deixaram os folhetos conosco. Li pela primeira vez o “Testemunho do Profeta Joseph Smith” e nunca me esqueci das suas palavras sobre a visão em que, segundo ele, Deus e Jesus Cristo apareceram numa coluna de luz num bosque. A história do anjo Moroni e das placas de ouro também me impressionou muito.

A vida seguiu, e nunca mais tive contato com o mormonismo até ser convidado a trabalhar no norte do Brasil, em Belém do Pará, auxiliando na montagem de uma filial da empresa onde trabalhava como gerente de compras. A empresa alugou uma casa para nós, quatro colegas do sul do Brasil. Revezávamos nas tarefas domésticas. Numa manhã de sábado, ouvimos batidas de palmas em frente à casa. Atendi e encontrei dois missionários mórmons americanos. Lembrei-me dos folhetos que lera anos atrás e os deixei entrar. Eles nos deram a primeira palestra sobre Deus e a Primeira Visão de Joseph Smith, além de falar sobre o Livro de Mórmon e a maneira correta de orar. Usaram material audiovisual, como um mapa-múndi, mostrando-nos o Velho e o Novo Mundo.

Eles prometeram voltar para a segunda palestra de um total de seis. Fui presenteado com uma edição do Livro de Mórmon, que comecei a ler imediatamente. A linguagem era mais fácil de compreender do que a Bíblia, mas exigia certo conhecimento histórico e geográfico. Não consegui discernir exatamente os locais mencionados. Quando cheguei a uma parte igual à Bíblia, em Isaías, minhas dúvidas aumentaram.

Recebi todas as palestras, mas não fui à igreja nem me batizei. Nem meus colegas aceitaram a religião. Um ano depois, li o livro de capa a capa, comparando algumas partes com a Bíblia. Decidi investigar melhor, pois se fosse verdade, estaria diante de um acontecimento magnífico. Sempre acreditei que deveria haver uma Igreja verdadeira na Terra e que a Igreja Católica não tinha todas as características da verdadeira Igreja de Deus, especialmente devido à Inquisição e das Cruzadas.

Em uma noite no início de 1988, fui até o local onde os mórmons se reuniam, no centro de Icoaraci, área metropolitana de Belém do Pará. Lá, encontrei o Presidente do Ramo, que me recebeu com alegria e me convidou para uma Reunião Dominical às 16 horas do próximo domingo. No domingo, fui bem recebido e fiquei convencido de que aquele povo era o “povo de Deus”. Queria me batizar logo e me unir a eles. Frequentando assiduamente as reuniões, fui ensinado por missionários e me batizei. No domingo, fui ordenado Sacerdote do Sacerdócio Aarônico e, um mês depois, Elder do Sacerdócio de Melquisedeque, com direito a entrevista com o Presidente da Missão Fortaleza, Helvécio Martins, um personagem polêmico.

Desde o batismo até meu desligamento da igreja, 18 anos depois, nunca deixei de atuar firmemente em todos os chamados e responsabilidades que tive: Líder da Obra Missionária, Presidente do Quórum de Élderes, Presidente da Escola Dominical, Presidente de Ramo, Bispo, Líder do Grupo dos Sumo Sacerdotes, membro do Sumo Conselho da Estaca, entre outros. Raramente faltava a uma reunião, sempre presente e convicto.

Mas algo aconteceu. Apesar de minha firmeza externa, eu tinha dúvidas e perguntas que nunca foram concretamente respondidas. Com o passar dos anos, descobri que muitas doutrinas mórmons eram difíceis de aceitar sem questionamentos. Entre elas:


— A validade e veracidade do batismo vicário (pelos mortos) nos templos.

— A veracidade de o Presidente da Igreja ser um “Profeta Vivo”, já que ele nunca profetizava nada, e a doutrina parecia baseada em repetições constantes.

— A veracidade do Livro de Mórmon, que parecia carecer de indícios racionais para a história nele descrita.

— A veracidade do “chamado profético” de Joseph Smith e sua visão de Deus. E a poligamia? Nunca esclarecida coerentemente na igreja.


Essas dúvidas geraram uma luta espiritual interna. Além disso, durante meu serviço como Bispo por oito anos, testemunhei fofocas, intrigas, invejas, ganância pelo poder e pessoas de má reputação sendo chamadas para liderar. Certa vez, descobri que um Bispo de outra Ala estava agindo desonestamente financeiramente no trabalho. Comuniquei o Presidente da Estaca, mas nada foi feito. “Taparam o sol com a peneira” e nem investigaram, apesar da firmeza da minha denúncia.

Refletindo sobre isso, percebi o quanto estava comprometido com a causa da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Eu era visto como um “crentão”, e com razão. Hoje, envergonho-me dessas atitudes fanáticas. Estava completamente hipnotizado pela doutrina. Quem me conheceu sabe que relato apenas a realidade que vivenciei.

Resolvi sair da igreja de livre e espontânea vontade, mediante uma carta. A maioria dos líderes tentou me convencer a ficar, mas eu não podia mudar minhas convicções atuais. Não poderia viver em paz sabendo que estava numa organização com mentiras, racismo, preconceito, xenofobia e até acusações de pedofilia contra seu primeiro líder.

Escrevi este texto há algum tempo e agora o adaptei para este blog. Espero comentários e críticas. Sei que também receberei ofensas e “passaportes” para o inferno mórmon, mas estou disposto a lidar com isso.

Um comentário:

  1. Boa história. Se os líderes não ligam pra denúncias de desonestidades, então são "pecadores" igual qualquer outro. Eu era crentão e me cobrava muito, diferente do que via pela maioria.

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