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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

COMO ENCONTREI O MORMONISMO

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


O meu primeiro contato com o mormonismo aconteceu quando eu tinha entre uns 10 ou 12 anos de idade. Foi na cidade de Curitibanos, interior de Santa Catarina. Eu estava em casa, assistindo a um programa de televisão, numa tarde qualquer da minha infância de outrora. Esse programa era exibido pelo antigo canal de televisão, a TV Coligadas, que gerava as imagens da cidade de Blumenau e era distribuído para várias regiões de Santa Catarina, atingindo, inclusive, a nossa pequena cidade de Curitibanos, no planalto serrano. Foi nesse momento que eu soube, que existiu um homem chamado Joseph Smith Júnior. Também fiquei sabendo naquele momento, que ele foi conhecido popularmente como “Profeta”, responsável pela aparição do Livro de Mórmon, uma espécie de livro sagrado.

No programa citado, ocorria uma entrevista com alguns membros da Igreja Mórmon Brighamita da cidade de Blumenau ou região. Essas pessoas exibiam para as câmeras algumas gravuras, incluindo aquela famosa gravura da primeira visão e outra não menos famosa, da suposta visita do “Anjo Morôni" ao quarto do jovem Joseph Smith Júnior. Depois disso não ouvi mais nada sobre o assunto. Mas fiquei intrigado com aquela entrevista. Ponderei na época: “Deus e Jesus Cristo apareceram flutuando no ar para um menino? Um anjo apareceu para esse mesmo menino no seu quarto?

Passaram-se desde esse acontecimento, uns quatro anos. Eu estava agora com 16 anos de idade. Certo dia encontrei dois missionários americanos nas ruas da minha cidade. Abordaram-me e, incrivelmente, não falaram de religião comigo. Mais tarde, julguei que se tratava dos típicos representantes da juventude americana, membros da igreja que foram para a missão “empurrados” por seus pais. Apenas disseram-me que eram dos Estados Unidos e que estavam fazendo uma missão. Mas não me disseram que tipo de missão era. Era tarde e estava um dia muito quente de verão. Eles reclamaram muito do calor, disseram que no seu país, o clima era melhor que o nosso. Não me deram nada, nem um folheto. Eu também não perguntei sobre a religião deles. Mas eu sabia que eram religiosos, que pertenciam àquela religião da entrevista de anos antes, que eu vira na televisão.

Depois disso, o próximo contato foi mais ou menos um ano depois. Eu trabalhava no escritório de uma indústria madeireira. Era a época de ouro do extrativismo desenfreado da araucária angustifólia (o pinheiro de grimpa). Eu saía logo cedo, às sete e meia da manhã. Voltava ao meio-dia para almoçar em casa, retornando novamente ao trabalho às treze e trinta. O expediente diário terminava às dezoito horas. Depois tinha que ir para a escola, onde estudava no curso de Técnico em Contabilidade, no antigo Colégio Comercial Cardeal Câmara. Devia ser o ano de 1981. Eu voltava para casa quando a aula acabava, perto das vinte e três horas. Isso porque eu voltava a pé.

Certa noite, enquanto me preparava para dormir, minha mãe me disse que tinha recebido a visita de dois missionários Mórmons e que deixaram um livro e alguns folhetos em nossa casa. Já era quase meia noite. Apenas me lembro de que peguei o livro, dei uma olhada nele. Tinha algumas gravuras nas páginas iniciais e os folhetos eram sobre o “Testemunho de Joseph Smith” e alguma coisa sobre Cristo ou o cristianismo. Falei para minha mãe que naquele momento eu não poderia lê-los ou olhar melhor para aquele material, mas que depois, no dia seguinte, eu queria analisar melhor todo o seu conteúdo. Alguns dias passaram. No final de semana próximo, lembrei-me do livro e tive curiosidade sobre ele. Pedi para a minha mãe pelos folhetos e o livro com o objetivo de ler o material. Ela me disse que os missionários passaram por nossa casa no meio da semana, pediram o livro de volta, mas deixaram os folhetos conosco. Li pela primeira vez o “Testemunho do Profeta Joseph Smith” e nunca me esqueci das suas palavras e da visão, onde, segundo ele, Deus e Jesus Cristo apareceram a ele numa coluna de luz, num bosque. Lembro que não só a aparição de Deus e seu filho, Jesus Cristo, despertaram a minha curiosidade, mas também a história da aparição do anjo Morôni e das placas de ouro que estavam enterradas próximo de sua casa me impressionaram muito.

A vida foi passando, nunca mais tive contato com o mormonismo. Eu tive que trabalhar para me sustentar, servi como soldado no Exército por um ano inteiro. Depois fui trabalhar novamente, até que num desses trabalhos, fui convidado a ir ao norte do Brasil, na cidade de Belém do Pará, para ajudar na montagem da planta fabril de uma filial da empresa. Eu exercia o cargo de gerente de compras. Era responsável pelos suprimentos. A empresa alugou uma casa para morarmos. Éramos num número de quatro colegas, todos homens, todos do sul do Brasil. Revezávamos na hora de preparar as refeições e lavar a louça. Lembro perfeitamente que estávamos meio ociosos em casa, numa bela manhã de sol de um sábado qualquer. Um ou outro de nós estava assistindo a programas de televisão, ou lendo um livro ou revistas. Escutamos batidas de palmas em frente da casa. Fui atender e ver quem era, quando percebi estar diante de dois missionários Mórmons americanos.

Após se apresentarem, pediram permissão para mostrarem para nós os seus serviços e sua mensagem. Imediatamente, lembrei-me dos folhetos que lera anos atrás e deixei-os entrar. Eles nos deram a primeira palestra sobre Deus e a primeira visão do “Profeta Joseph Smith”. Falaram-nos do livro de Mórmon e da maneira correta de orar, segundo a concepção da doutrina à qual pregavam. Lembro bem dessa palestra, pois usaram material audiovisual, como um mapa-múndi que estenderam no chão da sala, mostrando-nos o que seria o velho mundo e o novo mundo, Oriente-Médio e Américas.

Ao se despedirem, prometeram voltar para a segunda palestra de um total de seis. Concordei e despedimo-nos. Naquele momento, fui presenteado com uma edição do Livro de Mórmon, que comecei a ler imediatamente. A linguagem era mais fácil de compreender do que a Bíblia, mas era preciso certo conhecimento histórico e geográfico para se situar no contexto do livro. Mesmo assim, não havia como discernir exatamente e geograficamente, os locais mencionados nele. De repente, cheguei numa parte que era exatamente igual à Bíblia, na parte de Isaías. Aí as minhas dúvidas aumentaram. Sem conhecimento algum, ficou tudo confuso.

Recebi todas as palestras, mas não fui à Igreja visitar e nem me batizei na ocasião, como era a vontade dos missionários. Nem os outros colegas que moravam comigo na casa alugada quiseram aceitar a tal religião Mórmon. Passou-se um ano inteiro e eu li aquele livro de capa a capa, comparando algumas partes com a Bíblia. Aí resolvi investigar melhor tudo aquilo, pois se fosse verdade, estaria diante de um acontecimento magnífico. Talvez a maior de todas as manifestações, ou visões, ou restaurações, ou qualquer tipo de característica divina para a obra de Deus atualmente. Pois sempre acreditei que deveria haver uma “Igreja verdadeira” na face da terra, e que a Igreja Católica não tinha todas as características da verdadeira Igreja de Deus. Ela tinha a mancha podre da “inquisição” e as mortes resultantes das “cruzadas”.

Numa noite que não lembro de que mês, mas sei que era inicio de 1988, fui até o local onde os Mórmons se reuniam. Ficava no centro do Distrito Municipal de Icoaraci, área metropolitana da cidade de Belém do Pará. Chegando lá, encontrei apenas o Presidente do Ramo, que me recebeu com alegria. Já foi logo me falando da Igreja e das “verdades” que tinha encontrado na sua vida. E foi me envolvendo com aquela hospitalidade toda, culminando em me convidar para assistir a uma Reunião Dominical que começaria às dezesseis horas no próximo domingo, evidentemente.

No dia da reunião, domingo, às dezesseis horas, pontualmente, eu estava lá e tive uma grande surpresa. No início da reunião, começaram a cantar um hino. Alguém já veio sentar ao meu lado, me dando um hinário e ensinando-me como era que se cantava naquele hinário. Fui muito bem tratado e o resultado é que me cativaram extremamente, até ficar convencido de que aquele povo era o “povo de Deus”. Queria me batizar logo e me unir a eles. Esse era com certeza, o meu desejo naquela ocasião, pois eram aparentemente alegres e demonstravam isso. Estavam sempre sorrindo. Não tinha missionários para me passar as palestras novamente e me batizar naquela unidade da Igreja. O nome da unidade era Ramo Pinheiro. Tive que frequentar assiduamente as reuniões por um mês, mais ou menos, antes que aparecesse uma dupla de missionários. Esses missionários também são chamados de "Élderes'', andam pelas cidades em dupla, fazendo o trabalho de proselitismo da igreja, geralmente, de camisa branca e gravata.

Um dia, chegaram quatro missionários, duas duplas. Ensinaram-me todas as seis palestras novamente de segunda a sexta-feira. A reunião batismal foi marcada para sábado. No domingo, fui ordenado um Sacerdote dentro do Sacerdócio Aarônico. Um mês depois, um Élder, dentro do Sacerdócio de Melquisedeque, com direito a entrevista com o Presidente da Missão Brasil-Fortaleza, Helvécio Martins (in memoriam). Esse homem chegou a ser chamado para o segundo quórum de setenta da Igreja. Foi um personagem muito polêmico. Escrevi sobre ele. Adiante, veremos mais sobre os meus encontros com esse sujeito.

Desde o momento do meu batismo, até o dia do meu desligamento da Igreja, cerca de dezoito anos, nunca deixei de estar atuando firme e ativamente dentro de todos os chamados e responsabilidades que tive.

Na verdade, era mais fácil faltar os outros integrantes de qualquer organização das que citei anteriormente nas suas diversas reuniões, do que eu faltar. Sempre estava presente, convicto, tentando dar o exemplo.

Mas algo aconteceu! Apesar de toda a estrutura física externa como modelo ideal de “Santo dos Últimos Dias'', eu trazia comigo algumas dúvidas. E também algumas perguntas que nunca me foram concretamente elucidadas. E isso aconteceu desde que eu me batizei. Com o passar dos anos, eu descobri que tinha muito da doutrina Mórmon que eu não engolia sem um questionamento. Mesmo que silenciosamente. Apesar de toda a aparente firmeza que eu demonstrava, como um líder fiel, guardador dos mandamentos, eu sempre tinha algumas dúvidas dentro de mim. Dúvidas como, por exemplo:

● A validade e a veracidade do batismo vicário (pelos mortos) nos templos;

● A veracidade do Presidente da Igreja ser um “Profeta Vivo”, pois nunca profetizava nada, a doutrina é baseada em repetições constantes de vários assuntos;

● A veracidade do Livro de Mórmon, por mais que tente, não dá para engolir. Não há indícios racionais para a história nele descrita;

● A veracidade do “chamado profético” de Joseph Smith Júnior e a sua visão de Deus. E a poligamia? Nunca esclarecida de forma coerente na igreja.

Só os tópicos acima, já eram suficientes para que eu travasse uma fervorosa luta espiritual comigo mesmo. Mas, também surgiram algumas outras dúvidas ao longo dos anos. Isso enquanto trabalhei voluntariamente como Bispo da Igreja por oito anos completos. Eu via dentro da Igreja, em todas as Alas, sem exceção, fofocas, intrigas, invejas, gana pelo poder, pessoas que tinham uma má reputação fora da Igreja e que eram chamados para serem líderes, passando-se por verdadeiros santos.

Certa vez descobri que um Bispo da Igreja (da outra Ala que funcionava na mesma capela que a minha), não estava agindo financeiramente de forma honesta no local onde trabalhava, sendo inclusive, afastado de suas funções. Comuniquei o Presidente da Estaca sobre o ocorrido para que pudesse, no mínimo, investigar e afastar o Bispo de suas tarefas. Infelizmente, nada aconteceu. “Taparam o sol com a peneira”! Disseram-me que eu não tinha provas. Que seria a palavra dele contra a minha e vice-versa.

Nem sequer foi investigado nada, apesar da firmeza da minha denúncia, apontando todos os caminhos para a investigação. Analisando agora esse fato, fico até preocupado. Isso é na verdade, um termômetro para mostrar o quanto eu estava comprometido com a causa da igreja Mórmon. Quando falavam que eu era um “crentão”, não exageravam. Eu hoje tenho ciência de que era muito fanático. Envergonho-me veementemente por essas atitudes. Estava completamente hipnotizado pela doutrina. Quem me conhece, sabe que não estou escrevendo nada, a não ser a realidade que eu vivenciei.

Não precisa dizer mais nada, apenas que resolvi o problema, mesmo que tardiamente. Da mesma maneira que eu fui visitar a Igreja naquela noite em Icoaraci. Resolvi sair de livre e espontânea vontade, através de uma carta de uma ação administrativa (recurso existente na época). A liderança local e regional quis fazer de tudo para que eu ficasse, mas eu não mudei minhas convicções. Não poderia viver em paz comigo mesmo, sabendo que estava numa organização que tem mentira, racismo, preconceito, xenofobia e pedofilia do primeiro líder da organização (Joseph Smith Júnior).

Por causa da minha decisão, muitos escolheram o meu destino, o mais quente lugar no inferno Mórmon, as trevas exteriores.

Um comentário:

  1. Diversas vezes eu via Líderes corruptos sendo homenageados no púlpito, eu não concordava como um presidente do quórum que traía a esposa ainda tinha esse chamado...
    E o pior são aqueles membros perseguidores, que mesmo você não querendo voltar a igreja, ainda assim não largam do seu pé e querem saber de sua vida íntima e pessoal

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