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domingo, 13 de dezembro de 2020

COMO SE SENTEM "OS MEMBROS PERFEITOS" AO ME ENCONTRAR?

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Eu fui membro muito ativo por 18 anos. Nesse tempo todo, eu atuei em diversos lugares dentro da organização regional da Igreja. Especificamente, no antigo Distrito de Belém do Pará (Presidente dos Rapazes do Distrito), Ramo Pinheiro (Líder da Obra Missionária), Distrito de Lages (Líder da Obra Missionária do Distrito), Ramo Curitibanos (Presidente do Ramo), Ala Curitibanos (Bispo), criei o Ramo Pinho e o Ramo São Cristóvão do Sul (Missão Brasil-Curitiba) e posteriormente, fui Bispo da Ala Curitibanos (8 anos) e membro do Sumo Conselho da Estaca Lages. Ainda fui oficiante nos templos de São Paulo e de Porto Alegre. Dessa forma, eu mostro a todos, que eu não era um membro passivo na igreja, mas, pelo contrário, era o primeiro que chegava na capela aos domingos e o último que saía de lá.

Naquela época de "membro ativo", eu trabalhava numa empresa e ganhava muito bem, apesar do grande estresse e pressão que o meu cargo de gerente exigia. Consegui conciliar por muitos anos a minha profissão e os meus trabalhos e minhas responsabilidades voluntárias dentro do mormonismo. Muitos se espelharam em mim na igreja, achavam que eu era um "homem abençoado" e que tinha uma "família abençoada" por minha total abnegação ao “evangelho verdadeiro”. Por essa razão e fama, muitos da minha pequena cidade de Curitibanos aceitaram o mormonismo como religião, pois eu era uma pessoa idônea e bem relacionada com a maioria dos habitantes. 

Como eu era abençoado! Essa era a definição segundo a maioria dos membros. Não entendiam que eu não era feliz de verdade. Alguma coisa não estava certa com aquela religião que eu abraçava com todas as minhas forças. Apesar de proclamar a todos o meu testemunho, lá no íntimo do meu ser, sabia que faltava algo para que essa doutrina fosse, de fato, verdadeira.

Então, depois de trabalhar por 10 anos numa empresa de renome nacional como gerente de uma unidade fabril, de ganhar um bom salário mensal, de ser um dizimista exemplar e fiel, eu fui demitido. Consideravelmente e em parte, por causa da minha abnegação ao mormonismo. Perdi muitas oportunidades de crescimento profissional, porque: “eu não podia ir em reuniões, encontros e churrascos nos domingos com os meus colegas de trabalho”. Também, não podia participar de encontros ou reuniões em dias e horários que coincidiam com as minhas obrigações na igreja. Eu, além de ser o Bispo, ainda era o Professor do Instituto de Religião da Ala. Acabei não sendo uma pessoa de confiança profissionalmente, pois não estava 100% disponível para a empresa que eu trabalhava por causa da minha religião. Resultado óbvio: Fui demitido!

E onde foram parar as bênçãos por tamanha determinação em ser um líder exemplar? De repente, tudo desmoronou. Entreguei o bispado para outro homem, tão fanático como eu mesmo era na época. Acabei tendo que trabalhar com outros membros da Ala como empregado e de cooperação sem vínculo empregatício. Nesse intervalo de tempo, comecei a minha pesquisa mais profunda sobre o mormonismo na internet, ferramenta que começou a ficar disponível e popular no Brasil no final dos anos 1990 e 2000. Comecei a me relacionar on-line com pessoas que abandonaram o mormonismo e se consideravam “Ex-Mórmons”. Descobri a verdade sobre a minha religião. Era uma verdadeira fraude. De verdadeira e divina, não tinha nada.

Conversei com a minha família (minha esposa e três filhas). Decidimos abandonar o mormonismo de vez. Através de uma Ação Administrativa (mecanismo existente na época), saímos todos do mormonismo, abrindo mão de todas as nossas hipotéticas bênçãos templárias, do sacerdócio e anulando os nossos batismos.

Aqueles membros que antes nos bajulavam e que enchiam a nossa casa diariamente, de repente, sumiram todos. Onde foram parar os nossos amigos? Um deles, um homem antigo na igreja disse-me claramente que “a nossa afinidade tinha findado”. Agora não tínhamos mais nenhum vínculo, quer seja ele de amizade ou de alguma outra forma. Aos missionários, foi proibido o contato comigo e minha família. Acabei com um trauma enorme por causa da minha grande e imperdoável burrice, ou seja, aceitar uma religião como verdadeira por 18 anos. Pagar e despejar muito dinheiro em dízimos, ofertas generosas e doações de toda natureza. Lembro que doei barracas, equipamentos de acampamento para os jovens da Ala Curitibanos, máquina de cortar grama, relógio de parede, equipamento de jardinagem para manter e embelezar a capela, e outros bens e artigos de manutenção e limpeza.

Depois que saí do mormonismo, os membros diziam que eu era “filho de Satanás”. Que eu tinha dado ouvidos aos conselhos do Diabo e que era um perigo para eles se misturarem comigo, pois eu era muito influente e tinha um profundo conhecimento, tanto do evangelho (incluindo o estudo sistemático e esquadrinhado das escrituras, pois fui professor do Instituto por 8 anos consecutivos). Na verdade eu li e estudei todas as “obras-padrão” da Igreja. marquei e cruzei informações de toda natureza nas laterais das páginas em branco. Não era fácil alguém me persuadir com escrituras, a aceitar um retrocesso ao mormonismo. Primeiro, porque ao estudar a Bíblia, tomei ela como um registro mais histórico do que divino. Quanto ao Livro de Mórmon, não encontrei nenhuma evidência de sua veracidade divina, mas encontrei evidências de plágios e de escrita literária deficiente. Se era de Deus, esse "deus" era burro e não sabia escrever direito. Doutrina & Convênios seguiu o padrão dos desejos de Joseph Smith Jr., o fundador do mormonismo. Após a sua morte, pouca coisa foi acrescentada, invalidando as missões proféticas dos sucessores de Joseph. O livro de Abraão foi uma mentira inventada por Joseph, mais tarde foram encontrados os papiros originais e foi constatado que os fac-símiles eram na verdade, instruções de embalsamamento e tratamento de cadáveres. Não continham nada do que encontramos na obra literária utilizada na igreja.

Muitos diziam: “Ele tinha um testemunho tão forte, como pôde ter se afastado? Não entenderam que eu não me afastei, abandonei de vez o barco chamado mormonismo. Desembarquei, juntamente com a minha família, para nunca mais voltarmos. Nosso ponto de desembarque ficou bem claro e definido. Com todas as informações que obtivemos sobre essa doutrina, jamais poderemos cair no erro novamente.

Os anos se passaram. Muitos desejaram que eu fosse para o inferno. Não era fácil me encontrarem e reconhecerem que eu estava melhor, com a minha família, sem o mormonismo. Mais uma vez, os anos continuaram a passar. Prosperamos em todos os sentidos. Nossas vidas melhoraram muito sem uma religião e sem darmos satisfações a nenhum homem. Quando um membro do mormonismo me encontra e faz a tradicional pergunta: “Como você está?” Eu respondo prontamente: “Eu e minha família estamos ótimos. Nunca fomos tão abençoados, agora que não somos mais membros de nenhuma igreja, especialmente manipuladoras, como a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.

Vivemos nossas vidas sem darmos satisfações a nenhum dogma, doutrina ou crença. Somos uma família de verdade agora. Os nossos amigos são de verdade. Não precisamos de uma religião para termos afinidades. Acredito que hoje, somos verdadeiramente abençoados. Não antes, quando eramos membros assíduos e não decidíamos por nós mesmos.


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