Os Mórmons, como eles próprios confessam, adotam a
interpretação bíblica feita por Joseph Smith Jr. e Brigham Young, registrada
nos escritos deles. Do ponto de vista teológico, esta seita apresenta muitos desvios
em relação ao cristianismo tradicional.
Os historiadores e teólogos Mórmons mais bem
informados estão cientes de que da primeira edição do Livro de Mórmon para a atual
houve pelo menos 3.913 mudanças (e se levarmos em conta as diferenças de
pontuação serão mais de 25.000). A primeira edição já sofreu várias revisões,
primeiro por Joseph Smith Jr., e depois por seus sucessores ao longo dos últimos
cento e oitenta e dois anos. Contudo, tanto
os dados removidos como os atuais são apresentados como “revelação divina”. Esse é um exemplo da coexistência pacífica de
contradições claras dentro do sistema de crenças do mormonismo, que permite o
isolamento ou segregação de evidências ou conceitos conflitantes.
O cerne do sistema teológico Mórmon é uma forte
ênfase à autoridade de que o grupo sacerdotal se acha investido, bem como aos
rituais e símbolos dirigidos pela hierarquia da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias. Logo no início, um convertido Mórmon aprende que a "chave da autoridade" se acha em poder
dos Portadores do Sacerdócio de Melquisedeque e que uma das características da restauração
da verdadeira Igreja de Jesus Cristo na terra é o fato de que os sacerdotes
existem e perpetuam essa autoridade.
Um Mórmon fiel usa roupas íntimas (roupas de baixo)
simbólicas pelas quais ele está sempre lembrando seus deveres como membro do
grupo. Se pensarmos ainda na forte ênfase dada ao batismo para a remissão dos
pecados, ao dízimo, e ao serviço missionário voluntário, vemos como os
seguidores ficam encerrados dentro de um círculo fechado, homogêneo, do qual é
praticamente impossível fugir, a não ser com sérias penalidades espirituais e
econômicas.
Todo Mórmon é ensinado que “sua seita é a verdadeira religião cristã”; ou, usando seus
próprios termos, é “a restauração do
cristianismo na terra”. Os ritos (ordenanças) privados dos templos Mórmons,
os rituais associados com o batismo pelos mortos, os apertos de mão secretos,
os sinais e símbolos adotados, tudo isso prende o membro da seita e seus
familiares num laço que em Psicologia é chamado de “grupo social”. Quem não for aceito nesse grupo não terá paz, nem
gozará de prestígio, nem terá posição na comunidade.
A história dos Mórmons no Brasil é marcada pelo
racismo, em consequência de sua doutrina igualmente racista. Segundo o historiador Mórmon Dr. Lawrence J. Nielsen,
durante anos a igreja evitou converter pessoas de ascendência africana, e os missionários
desenvolveram vários métodos (até a prática de verificar álbuns de fotografias)
para detectar tal linhagem a fim de não batizar pessoas erradas.
Desenvolveram também códigos secretos — sinais de mão
— para se comunicar sem serem reconhecidos pelos negros. Segundo o pesquisador Mórmon
Mark L. Grover, durante os anos 50
a missão brasileira estabeleceu oficialmente como seu alvo
principal a “pureza racial de todos os
novos convertidos”.
Ela também tirou dois capítulos inteiros das edições brasileiras
do livro O Caminho da Perfeição como parte
de sua tentativa de limitar as informações aos membros brasileiros sobre tal
doutrina ofensiva. Como resultado, os Mórmons brasileiros e o público em geral desconhecem
as dezenas de declarações claramente racistas feitas pelas autoridades Mórmons na
sua literatura oficial em inglês. O referido livro foi
traduzido sem mudanças para o alemão, francês, espanhol e japonês.
A decisão da igreja em 1978 de abrir o sacerdócio às pessoas
com “sangue negro” foi o resultado da
impossibilidade de determinar corretamente a linhagem racial de seus membros
brasileiros, afirma o apóstolo Mórmon LeGrand Richards em outubro do mesmo ano,
numa entrevista pouco conhecida, trazida a público no Brasil pelo Instituto
Cristão de Pesquisas.
Segundo a doutrina Mórmon, uma só gota de sangue africano
era suficiente para manter a maldição que recai sobre as pessoas de pele escura
e desqualificar um possível candidato ao sacerdócio. Qualquer um que fosse
ordenado por engano estaria administrando ordenanças inválidas, assim atrapalhando
seriamente a ordem da igreja. A igreja, explicou Richards, foi forçada a
reconsiderar sua posição porque um “templo
sagrado”, no valor de quatro milhões de dólares, estava para ser inaugurado
em São Paulo
em agosto daquele ano. Como a igreja teria de negar a entrada aos membros de
origem africana neste templo? Se metade da população brasileira é basicamente
de origem negra?
MARTIN,
Walter. O império das seitas – Volume
II -Editora Betânia - 1992
Nenhum comentário:
Postar um comentário