Em uma das minhas áreas na missão de tempo integral ensinei uma jovem que estava muito animada com as palestras e com a igreja. Ela estava progredindo como se diz na gíria dos missionários e para integrá-la mais na igreja, a convidamos para ir a um serão na sede da estaca. Falamos então com o seu pai se ela poderia ir para o evento e para a nossa frustração ele não a autorizou.
Perguntei se tinha algum motivo em particular e ele me respondeu que a sua filha tinha problemas de saúde. Não entrei nos detalhes, apenas aceitei e respeitei a sua autoridade. Posteriormente soube pela jovem que ao conversar com o seu pai, descobriu que a razão da proibição foi que ele pensou que serão na igreja fosse um mutirão para passar cera na capela e quis tão somente livrar a filha daquela encrenca.
Engraçado, não? Pois é, aquele homem já achava que os serões na igreja não eram lá nada espirituais. E o pior é que ele estava certo...
Sempre esperei pelo dia em que alguma autoridade da igreja viria a minha cidade e pregaria o evangelho como um mensageiro do Senhor.
Eu tinha essa esperança. E era difícil para eu entender o motivo de ninguém vir aqui para trazer uma mensagem do Salvador Jesus Cristo ou operar milagres como supostamente faziam os enviados do Senhor no passado bíblico. A propósito essa é uma condição para a minha volta para a igreja dos mórmons: o dia em que um apóstolo da igreja vier aqui e mandar chamar todos os cegos, surdos, mudos, coxos, leprosos e outros enfermos e os curar. E também chamar os famintos e os nus e alimentá-los e vesti-los como diz o mandamento eu considero repensar minha decisão de deixar a igreja. Mas como sei que eles vêm aqui e ficam no melhor hotel da cidade, andam nos carros de luxo da frota da igreja, usando seus caríssimos ternos, freqüentam os melhores restaurantes e tampouco falam com os membros humildes da igreja sei que a minha saída foi para nunca mais voltar. E para os pobres coitados membros da igreja resta digerir as estapafúrdias mensagens deixadas pelas autoridades. Lembrando que em sua maioria os palestrantes nem são autoridades na igreja, mas sim celebridades.
Lembro-me de palestras como a do dono da Wizard idiomas: Como sonhar e realizar seus sonhos;
Uma com um filho do Helvécio Martins, Marcus Helvécio Martins que vive no Hawai que só se gabou de sua vida de “sucesso” por lá;
Outra com um pessoal do SRE, senão me falha a memória era: de faxineiro a mestrado na BYU, essa foi memorável. É a experiência toda errada de um membro que foi faxineiro no CTM lá nos Estados Unidos e conseguiu fazer mestrado na Brigham Young University. Essa turma andou fazendo vários serões pelo Brasil contando essa “história de sucesso” de um membro que não seguiu o conselho do próprio profeta que é o de ficar em seu próprio país e não se aventurar nos Estados Unidos. Chegaram aqui na maior pompa, hotel “five stars” e tudo mais;
E para finalizar tem mais um: organizado por uma família tradicional da igreja aqui, com o tema: Família. Mas na verdade reuniram toda a estaca para mostrar seu filho que depois da missão foi morar nos Estados Unidos. Estudou, casou por lá e se deu bem. Daí queriam mostrar pra todo mundo como o filho estava por cima, casado com uma americana e tudo mais. Essa noite para mim foi de amargar. Pois todos os membros da família trocaram elogios por mais de uma hora e por último o filho de sucesso foi ao púlpito com a sua esposa americana como se ela fosse um troféu e nos “inspirou” com suas palavras e aquelas frases que começam com: lá nos Estados Unidos, lá em Utah...Etc.
Como já disse, essas coisas que escrevo não são os motivos pelos quais eu deixei a igreja, mas sim, que me levaram a questionar se Jesus Cristo tinha mesmo algo a ver com a igreja mórmon. E estes serões estão mais para palestras de MLM(Multi-level Marketing) do que qualquer outra coisa.
Fonte:
Sobre o autor dessa Postagem!
Entrei para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias há 18 anos. Fui missionário de tempo integral por 2 anos, fui Pres. do Quórum de Élderes, Sumo-Conselheiro da Estaca, Pres. da Escola Dominical, Líder da Obra Missionária, Pres. dos Rapazes, Sou formado no Seminário e Instituto da Igreja. E por último servi por 4 anos como Bispo da minha Ala. Sou casado e selado no templo, tenho filhos. Tudo caminhava naturalmente na minha vida como Sud, até que os meus olhos começaram a se abrir e as falhas na doutrina, na história e no comportamento da Igreja não se sustentaram e me afastei.
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