Entrou no mormonismo procurando gente acolhedora, virtuosa e protetora, mas quando ela tentou passar adiante essa fé descobriu que nem a Bíblia respondia os anseios do seu coração.
Pablo J. Ginés / ReL
Yasmin Oré Ramírez, nasceu e cresceu em Lima, Peru, numa família de tradição católica... Até que uma amiga a convidou para visitar os Mórmons.
“A minha família era católica, ainda que os meus pais não eram casados formalmente pela igreja católica, por causa de alguns documentos que foram queimados ou perdidos. Deixaram esse objetivo e casaram-se pelo civil. Eles me deram uma educação católica: fiz o ensino secundário no colégio Presentación de María, de irmãs religiosas, recebi os sacramentos, a comunhão e a confirmação.
Aos 19 anos, eu estudava direito. Ia à missa e inclusive cantava no coro, mas a minha formação e a minha fé era muito superficial. Eu tinha ouvido falar de seitas demoníacas e satanistas, e o meu papai me prevenia contra os Testemunhas de Jeová que batiam à nossa porta com frequência. Mas ninguém me havia falado dos Mórmons.
A AMIGA E O ACOLHIMENTO
Eu tinha uma amiga no meu colégio de freiras monjas que era Mórmon. Certa vez, ela me disse: "acompanhe-me um domingo para que possas ver como é a minha igreja". Assim, num certo domingo, eu faltei à missa para ir com ela ver a sua igreja. E gostei! As pessoas eram muito acolhedoras: todos eram, as senhoras, as moças da minha idade e os rapazes.
Eles tinham reuniões para jovens, onde falavam sobre as virtudes. Para outros jovens, isso talvez parecesse uma chatice, mas eu era uma moça com poucas amizades. Eu não gostava de ir às festas. As festas não me atraíam. Por outro lado, essa gente, que parecia tão pura, virtuosa e inocente, enchia-me. Hoje, eu sou católica e adulta. Eu sei que temos que enfrentar o mal que há no mundo e nas nossas vidas, mas então, com 19 anos, eu não queria enfrentar essa realidade. Não queria deter me para raciocinar. Eu queria proteção, um ambiente seguro, um grupo acolhedor e virtuoso que me protegesse. Os Mórmons ofereciam-me isso.
DOIS RAPAZES JOVENS FALANDO DE DEUS
Eles enviaram dois jovens missionários para visitar minha casa. Recebi as palestras missionárias dois dias por semana. Eram dois rapazes da minha idade. De 19 anos, um peruano e outro dos Estados Unidos. Eu dizia aos meus pais, que eram cristãos e amigos da minha amiga. E que eles estavam na nossa casa para falar de Cristo e de Deus. Eles, demasiadamente confiantes, deixavam-nos a sós na sala de nossa casa.
Eu estava impressionada: Dois rapazes de 19 anos, da minha idade, me falavam de Deus com paixão. Mais ainda, estavam dedicando dois anos das suas jovens vidas só para isso. Falar de Deus! Surpreendia-me! Eu os admirava: não conhecia ninguém na Igreja católica que fizesse isso.
SENHOR SMITH E O "VERDADEIRO" CRISTIANISMO
Nas primeiras palestras, eles falaram do Livro de Mórmon. Disseram que o ensinamento pleno do cristianismo tinha se perdido desde a morte do Apóstolo João. E que não havia sido recuperado, até que um anjo o revelou novamente ao Profeta Joseph Smith, em 1830. Nesses revelados ensinamentos do cristianismo estava incluído o Livro de Mórmon, com todos os ensinamentos perdidos.
Usavam sempre as mesmas citações da Bíblia para apoiar o Livro de Mórmon. Os Mórmons ensinam, segundo o seu livro, que Jesus, ao ressuscitar, apareceu e ensinou aos povos da América. Apoiam esse ensinamento na Bíblia, quando Jesus disse: "tenho outras ovelhas que não são deste redil". Para justificar, que além da Bíblia seja válida a existência do Livro de Mórmon, eles citam Ezequiel 37:15-17, que fala de "uma vara de Judá" e "uma vara de José, ou Israel", que Deus tem de unir. Eles dizem que essas duas varas são dois livros: a Bíblia e as escrituras dos Mórmons. E sobre o profeta Joseph Smith, eles citam Amós 3,7: "o Senhor não fará nada sem revelar os seus segredos aos seus servos os profetas".
FAZER PERGUNTAS É BOM
Eu, nessa época escrevia um diário, que ainda conservo. Apontei uma ideia que me passou pela cabeça: "se esse Livro de Mórmon é outro testamento, porque não há provas arqueológicas? Por que não há papiros dele? Ou pergaminhos dele, como os da Bíblia?" Os Mórmons ensinam que o anjo levou consigo o livro original que estava escrito em lâminas de ouro. Somente depois de Joseph Smith ter lido e traduzido para o inglês, transformando o conteúdo das lâminas de ouro no Livro de Mórmon. Mas, por que Deus fez algo tão diferente? Comparando com o que fez com a Bíblia? Fiquei com vergonha de perguntar-lhes isso, porque eles eram tão amáveis comigo!
À minha pergunta de: Por que não temos os textos que o anjo revelou a Joseph Smith? Eles me responderam citando São Paulo: "a fé é a certeza do que não vemos", e também citando o seu próprio livro: "há muitas coisas de Deus que não veremos".
Na realidade, como comprovei depois sendo missionária Mórmon, aos jovens missionários Mórmons não lhes ensinam muitas respostas às objeções alheias. Muito rápido respondem a tudo com esta frase: "Convidamos-te a que ores a Deus esta noite e que Ele te fale. Verás que é verdade o que ensinamos".
Eu orei na noite em que me falaram essa frase. E não senti nada, Deus não me disse nada. E escrevi assim no meu diário, sinceramente. Mas a eles, sugestionada, ou por qualquer outro motivo, lhes disse: "sim, sinto que é verdade".
Eu queria pertencer a eles. Só me pediam para ser boa, e eu queria ser boa, e pensava que a "Igreja Verdadeira" seria simplesmente a obediência às coisas boas, virtuosas, e pareciam ser eles.
Era o ano de 2005, acabava de morrer o Papa João Paulo II. Os católicos escolheram Bento XVI como o novo Papa. Alguns membros da igreja Mórmon me diziam que era feio eu olhar e assistir notícias da Igreja Católica.
REBATIZADA NA IGREJA MÓRMON
Por fim, nessa fase, depois de quatro ou cinco palestras, convidaram-me ao batismo Mórmon. Para isso, passei por uma prévia entrevista batismal. Nessa entrevista foi necessário dizer ao entrevistador que eu acreditava no Livro de Mórmon. E que aceitava o profeta Joseph Smith. Também me perguntaram se se eu tinha matado alguém, se abortei, se tive relações sexuais. Eu acreditei que eles não queriam aceitar qualquer pessoa que teve uma vida pouco virtuosa, exceto se fosse o parente de alguém da igreja. Pensei que poderiam me rejeitar. Eu soube que pessoas com inclinações homossexuais são rejeitadas.
Aceitaram-me. Organizamos após a entrevista batismal o meu batismo Mórmon. O meu papai não veio: Ele disse a todos que éramos católicos "da Virgem e do Senhor dos Milagres". Da minha família só veio a minha mamãe e a minha madrinha do batismo católico! Hoje, eu digo: "Que barbaridade, não?" A minha mãe chorava: "filha, mas se eu te dei os sacramentos na Igreja católica?" E eu respondia-lhe: "preferes que eu vá à discoteca a cada sábado?" Com isso a pressionava. Eles me viam feliz, e viam que os jovens Mórmons pareciam gente boa. Era uma falsa escolha: ou eles, ou o mundo da noite e as discotecas.
No batismo Mórmon entrei numa piscininha de corpo completo, com uma túnica branca. Escolhi um homem para me batizar: eu escolhi os dois missionários que conhecia. Deitaram-me para trás, como fazem os batistas e outros protestantes, e me submergiram e disseram: "em nome do pai, do filho e do espírito santo". Atenção aqui: Eles não aceitam que é um único Deus; para eles são 3 deuses distintos.
A Joseph Smith apareceram-lhe o Pai e o Filho num bosque, há um desenho típico que ilustra isso, como dois corpos distintos. Cada vez que no Antigo Testamento se diz que Moisés viu a cara de Deus, ou que Deus assinalou com o seu dedo, ou deu as costas ao povo, etc... Os Mórmons interpretam que Deus Pai tem um corpo, com dedos, cara, costas, etc...
Quando uma pessoa começa a frequentar a igreja dos Mórmons, eles te encorajam a permanecer muito tempo com eles. Deixam-no à vontade, é como ter outra família. Eles não acreditam que Deus habita em ti e te transforma e o faz santo. Não, eles creem que por suas próprias forças serão perfeitos, que já o estão sendo, porque cada um vai ser um deus. E claro, essa perfeição é impossível, mas essa é a ideia que tentam passar.
São muito exigentes no controle da sexualidade: Qualquer encíclica católica sobre o tema é muito mais humana e branda, mais compreensiva. Eles são mais exigentes, controlam-te de forma demasiada, como um robô. As moças são encorajadas a estudar. Sim, mas o ideal que em seguida se casem logo. E que tenham muitos filhos.
MUITOS MANUAIS PARA ESTUDAR
Uma vez batizado, te entregam muitos manuais para para que você possa estudar, algo repetitivo a cada domingo na Escola Dominical. Tive essa experiência de nos meus primeiros meses como membro da seita. Ler e estudar os livros que me foram apresentados. Eles ofereciam também um serviço para ajudar a encontrar qualquer resposta baseada nos seus próprios livros.
Em seguida te dão um "chamado", que é um cargo. No meu caso era um cargo relacionado aos jovens. Um ano depois fizeram-me missionária de bairro: nos teus tempos livres, os missionários de bairro acompanham os missionários de tempo integral nas visitas aos prosélitos. No vocabulário Mórmon, chamam de "investigadores". Os acompanhantes servem para fazer amizades aos "investigadores" (quer dizer, as pessoas não Mórmons), convidá-las, estender laços de amizades, etc...
Também aprendi a orar no estilo Mórmon, seguindo uma maneira que eu mesmo explicava aos investigadores. Tinha que fazer uma breve oração ao levantar pela manhã, outra ao deitar e outra em cada refeição. A estrutura é sempre igual: "Pai Celestial, nós te agradecemos por tal coisa, te pedimos tal outra, no nome de Jesus Cristo". Nas refeições, nós dávamos graças pela comida. Dizíamos sempre "Pai Celestial". Nunca, "Pai-nosso".
O CULTO MÓRMON
Nos domingos há uma reunião que dura três horas. Inclui aí a chamada "reunião sacramental". Juntam-se todos os membros de uma área (grupo, ramo ou Ala). Não há um pregador oficiante. O que assistimos nessa reunião são as palavras de conferencistas ou discursantes designados para o dia. Um fala assuntos básicos, outro do dízimo (um tema muito insistente). Outro dia podem falar do batismo dos mortos ou dos "selamentos", como chamam ao casamento nos templos. No final, sempre alguém "dá um testemunho", mas isso não consiste em contar a sua experiência. Mas sim, simplesmente, em expor, de uma forma muito repetitiva, que dê segurança, semana após semana, que ela acredita em Joseph Smith, no Livro de Mórmon e na sua igreja.
Depois de algum tempo como membro, fui designada a ser missionária no exterior. É algo que todos os jovens precisam fazer: Dois anos para os homens; um ano e meio para as mulheres. Em alguns casos os jovens ainda não terminaram seus estudos, todavia, outros membros te julgarão mal, se você não sair para a missão. Normalmente, cada um missionário retornado casa-se depois. As moças da igreja são incentivadas a casarem com missionários retornados, porque são mais maduros na fé.
Os missionários Mórmons são, sobretudo, rapazes e moças jovens. Também há adultos. Casais de idosos que saem como missionários. E há além desses, casais que podem ser presidentes de missão. Não há missionários “por toda a vida”. Tampouco, há "pastores". O mais parecido é o "bispo", mas não se mantém com os dízimos, mas sim com um trabalho de suas próprias mãos. Dizem que os dízimos são para manter as "capelas" (centros locais). O resto vai todo para a central nos Estados Unidos. Por isso não há escândalos de pastores com veículos ou gastos luxuosos.
PAGAR AS MISSÕES À TUA FILHA
Em 2006, eu já estava com o tempo de um ano e meio de membro. Meu namorado era um Mórmon peruano que já havia sido missionário. Combinamos de que eu faria uma missão e talvez logo nos casaríamos. Ele ficou muito contente e me animou nessa jornada de ir para a missão. É caro: parte das despesas o jovem precisa pagar, outra parte, os pais do jovem e a outra parte menor, a igreja. Eu tinha poupanças que equivalem hoje em 500 euros. Muito para o Peru. Gastei esse dinheiro nessa missão. Os meus pais comprometeram-se com o equivalente a 100 euros mensais. A minha mãe chorava: tiravam-lhes a filha e ainda tinha que pagar por isso. E havia que comprar muita roupa e materiais, gastos que impacientava a minha mamãe. "É uma vez na vida", eu lhe dizia.
Primeiro mandaram-me para a Colômbia. Quase um mês antes de eu me formar na escola. Abandonei os estudos. Lá na Colômbia era como um internato, onde estávamos muitos rapazes e moças do Peru, Colômbia, Venezuela...
TREINAMENTO DO JOVEM MISSIONÁRIO MÓRMON
Tivemos vários tipos de treinamentos para convencer as pessoas. Apresentavam-nos vídeos que ensinavam como falar, que fazer se saíssemos mal com alguma resposta. Era muito pesado, mas eu estava contente. Ensinaram-me as escrituras que comentei anteriormente neste texto e como responder às perguntas dos "investigadores" (as pessoas não Mórmons).
Os Mórmons não querem que os outros os refutem muito; Um Mórmon dá as suas citações, e se alguém começa a questionar e perguntar, eles dizem que não tem que perder tempo refutando doutrinas. Apenas tentam tapar dúvidas com a Bíblia ou o Livro de Mórmon. Ensinavam-nos a falar só de Joseph Smith, da nova revelação completa, do Livro de Mórmon.
Explicaram-nos que o ensinamento cristão se perverteu com o Imperador Constantino no século IV, que o cristianismo foi corrompido. Logo, eu aprendi que roubaram esse conceito de outros protestantes. Ensinaram-nos que Calvino e Lutero apenas "prepararam" o caminho para a recuperação do cristianismo, que chegou com Joseph Smith.
A COMPANHEIRA INFLEXÍVEL
Cheguei em Guayaquil, Equador como uma missionária Mórmon, em Março de 2007. Puseram-me uma companheira chilena, da minha idade, muito seguidora das regras e exigente, que não admitia nenhum descuido nem cansaço. Era filha de Mórmons, com 9 irmãos, crescida em família Mórmon, não como eu. Os missionários estão juntos em duplas ou pares, a todo momento, exceto no banheiro. Isso espanta perigos, mas também "tentações".
Todo dia, às 6 e meia da manhã, nós levantávamos para estudar o que falaríamos na rua. Às 9 e meia, nós saíamos de casa, tratávamos as pessoas, de pé, caminhando, com o calor de Guayaquil. Um descanso para almoçar, e continuar até à noite. De noite, nós ajoelhávamos, orávamos pedindo mais "investigadores". Se nós brigávamos entre nós, esse era um momento para pedirmos perdão. Ainda que a segunda-feira fosse dia de descanso e outros missionários fizessem turismo, minha companheira me colocava para estudar. E assim, sendo missionária em Guayaquil, quebrou-se a minha confiança na fé Mórmon.
A ANCIÃ CATÓLICA RESISTENTE
A primeira "queda" foi por causa de uma senhora de uns 75 anos, que era muito católica. Ainda que um dos seus filhos fosse evangélico e o outro bispo Mórmon. Esse bispo insistia para batizá-la. Minha companheira tinha colocado na sua cabeça de conquistá-la, então levava-lhe sobremesas. Visitávamos muito essa anciã.
Quando um católico se mostra resistente demais, haviam-nos ensinado que deveríamos insistir no ensinamento de que a Igreja católica já não era a igreja de Cristo, que não era desde Constantino, que tudo era mau desde então: as imagens, a Virgem Maria, o batismo de crianças, etc...
E a minha companheira insistia tanto que eu recordei o meu próprio passado católico e fiquei muito emocionada. Eu disse para ela, para a minha companheira chilena, chorando: “se eu convencer esta senhora, eu sinto que estou traindo algo meu”. A minha companheira ficou petrificada. “É normal, faz pouco tempo que és membro, és de família católica, eu falarei com a senhora”, respondeu ela. Não serviu de nada: a senhora chegou à entrevista batismal por insistência do seu filho e sem convencimento, mas como disse que não pensava nem deixar de fumar (algo importante), a rejeitaram. E a deixamos.
EVANGÉLICOS E TESTEMUNHAS, MUITA BÍBLIA!
O caso é que descobri que quase não tínhamos argumentos nem respostas. Os Testemunhas de Jeová nos punham a cabeça abaixo, não aceitavam nem a Joseph Smith nem o seu livro e não estávamos preparadas para refutar-lhes em nada. E também os evangélicos nos refutavam e eu pensava: “somos missionárias, treinadas, mas não sabemos responder a coisas supostamente básicas da Bíblia?” E comecei a duvidar. Essa era a minha segunda "queda", verifiquei que não tínhamos respostas. E chorei outra vez: “estou duvidando da fé”.
A missão, que devia reforçar a minha fé Mórmon, a estava destruindo. Perguntava-me: "estarei fazendo bem ao querer mudar-lhes a sua fé? Tenho direito a mudar a sua vida? Pararei por aqui, pois eu duvido da veracidade dessa igreja Mórmon!"
Eu estava começando a duvidar muito do mormonismo: achava que os Mórmons quase não usam a Bíblia, que haviam tido poligamia num passado recente, que havia doutrinas ocultas. E eu dei-me conta que gostava e me emocionava com as campanhas nas igrejas católicas. Eu via as pessoas que saiam em procissão, devotas do Divino Menino. E a Virgem? Perguntava-me: "como vou dizer que isto é mau e pagão?"
E num encontro com o bispo Mórmon, eu disse-lhe: “sinto que minto quando falo” e disse que queria deixar a missão. Pedi à minha companheira: "Por favor, diga ao Presidente da Missão que quero voltar para o meu país, pois sinto-me um robô".
DEFENDENDO O PAPA
O Presidente da Missão tentou dissuadir-me para que eu não partisse. Mas eu não lhe disse simplesmente "adoro a minha família" ou "estou cansada". Eu defendi a Igreja católica. Disse-lhe que já não queria falar mal da Igreja católica, que eu pensava bem do Papa, e que na Igreja católica há santos e gente boa. E isso o zangou.
Ele insistiu, que a Igreja e o Papa são a Prostituta das escrituras, que os meus sentimentos vinham do demónio, que se voltasse ao catolicismo a minha vida seria um desastre em todos os sentidos. Durante uma semana, cada noite a minha companheira tentava convencer-me; davam-lhe instruções de como convencer-me. Disse-lhe: “sai do meu quarto que me confundes”. E nesses dias, depois de vários anos, comecei a rezar à Virgem, a pedir-lhe que me protegesse, porque a minha companheira se punha muito sectária e tinha medo de que chegasse a bater-me. Disse-me: "quando eu chegar ao Peru com a minha família, o mormonismo vai-se acabar da minha vida”. Eu já sabia que não poderia encaixar.
DE VOLTA PARA CASA: UM ANO DE INSISTÊNCIA
No final pagaram-me o voo para o Peru. E fui para a minha casa. Ali os Mórmons enviaram o meu namorado, os amigos, o meu melhor amigo. Eu duvidava para todos. Voltar ao mormonismo? Agora eles davam medo, não segurança. Já o meu irmão me tinha dito: “é uma seita”. Insistiram quase um ano. Mas eu não os recebia, nem ao meu antigo namorado: não queria recair por amizade. Os meus pais disseram-me: “corta o relacionamento com todos eles”. Os meus pais mostraram a força que antes não haviam tido.
Estive um bom tempo isolada em minha casa, só com a Internet, lendo de gente que saía de seitas. Falei com o pároco da mamãe, mas só me disse: “Benvinda, não te sintas mal”. Não me deu mais formação. Eu necessitava uma atenção especial, acabava de sair de um grupo muito fechado e intenso.
Os meus pais estavam se convertendo, avivando a sua fé católica nas catequeses do Caminho Neocatecumenal, mas tampouco eles davam-me respostas. Eu acreditava que a Igreja católica era verdadeira, e que a evangélica também o era, porque lia muitos testemunhos de ex-Mórmons na Internet que eram evangélicos. Não havia nenhum “carisma” católico que me limpasse da minha experiência Mórmon. Mas os pastores evangélicos tampouco me inspiravam confiança.
OS QUE SABIAM DE SEITAS
E um dia a minha mãe me deu um folheto sobre seitas dos Apóstolos da Palavra (www.apostolesdelapalabra.org), um apostolado católico muito baseado na apologética, na defesa da fé. Procurei a sua morada. “Vivem aqui na esquina”, disseram-me. Cheguei de bicicleta, e ali estavam as Irmãs dos Apóstolos (freiras). A minha história as assombrou. "Nunca nos havia chegado alguém com esta necessidade. Vem conosco aos sábados”, convidaram-me. E fui às suas palestras: entendi o ensinamento católico sobre as imagens, Deus, a natureza de Cristo, deram-me livros, tudo bem explicado. E agora, quando vinham os Mórmons, já não os evitava: os enfrentava, pegava na Bíblia, os refutava.
MARIA E UMA VIDA NOVA
Hoje, olhando o passado, creio que o que mais me ajudou foi a presença da Virgem Maria, que reconheci depois. Ao voltar ao catolicismo, vi filmes sobre ela, rezei-lhe… Maria, creio, é o que mais me alegrou recuperar, e ela me atraiu através das suas imagens.
Publiquei o meu testemunho em alguns sites católicos, e conheci pela Internet quem hoje é meu esposo. Ele também havia estado próximo dos Mórmons por um amigo seu e a mim me ajudou com argumentos e amizade. Ele é espanhol, de León. Depois de três anos de namoro "cibernético" casamo-nos em Lima. Agora vivemos em Madrid. Somos catequistas de crianças da Primeira Comunhão na Paróquia de San Romualdo. E lhes damos pequenos ensinamentos de uma fé razoável, para defender a fé da Igreja de todo o tipo de ataques.
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