Nasci na igreja e deixei de frequentar em 2001, definitivamente. Na época, eu tinha 27 anos. Mas muito antes disso (quando comecei o curso superior em direito, com 18 anos), eu já frequentava a igreja contra a minha vontade.
Havia momentos, em que eu gostava de ir ao instituto. Outros não. Havia momentos, em que eu gostava e queria ir à igreja. Outros não. O que me dava realmente alegria era dar aulas na primária e participar da liderança da mesma, coisa que fiz por mais de 5 anos.
Eu não me sentia confortável em dar aulas para as moças, pois naquela época, além de eu ir para as baladas com as amigas da faculdade (coisa que era motivo de guerra em casa), eu também tinha um namorado fixo.
A minha sorte foi o meu pai nunca ter exigido que eu namorasse ex-missionários! Só tive um namorado na igreja. Depois eu passei a achar os rapazes Mórmons meio bobos. Não gostava quando se aproximavam de mim com o papo do Livro de Mórmon, "quem é deus pra vc?"
Eu queria distância de gente bitolada! Com certeza, eu não seria eu a pessoa mais indicada para falar sobre o respeito à lei da castidade com as moças, por isso, eu me sentia à vontade para dar aulinhas aos pequenos! Senti que tinha uma vida dupla, uma certinha (que ia à igreja no domingo com aulas preparadas, o que me cansava à beça) e outra, que queria viajar com o namorado, visitá-lo em São Paulo, pois eu morava em Curitiba.
Eu tive sérias discussões com o meu pai e fui expulsa de casa 2 vezes (ele, que também tinha sido bispo e também advogado da igreja/associação deseret... pensem!). Eu estava adquirindo a minha liberdade e independência, de forma muito forçada.
Certo dia, o meu namorado na época, que não era da igreja, fez um dossiê e aí foi o meu ponto fora da curva.... Ele era um cara muito inteligente e ele imprimiu um calhamaço de documentos em inglês sobre quem tinha sido Joseph Smith. E também, sobre as ordenanças do templo. Ele me perguntou "você sabe disso? Você está de acordo com isso?" Eu fiquei desconcertada, pois até então, as informações que eu estava vendo (tinham muitas fotos). Lendo, vi que eram "segredos" nunca falados pelos meus pais.
Eu nunca fiz endowment. Não fiz missão, logo, eu não sabia da cerimônia, do ritual ou sei lá como se fala para poder portar o garment. Eu chorei muito. Senti náuseas. Eu dizia que isso não era verdade... Enfim, doeu. Mas ao mesmo tempo, fui amadurecendo sobre isso e decidi que eu não queria isso pra mim.
Nao! Nao! Nao! Em 2001, consegui um emprego em Brasília e lá, eu comecei uma nova vida. Simplesmente, eu deixei de ir à igreja. Nao deixei rastros. Tenho uma relação saudável com os meus pais e entendemos que tudo o que aconteceu foi uma experiência que ajudou no amadurecimento de todos.
Confesso que não precisei ir atrás da história da igreja. Talvez essas informações que surgem agora, façam parte da consolidação de uma decisão tomada há muito tempo. Hoje, eu quero mais é fugir de qualquer tipo de seita religiosa e passar para a minha filha toda informação que de mim foi forjada.
Sou uma pessoa muito discreta e falar sobre isso é como uma catarse, uma volta ao tempo!
A vida dá voltas. E precisamos das dúvidas e sofrimentos para aprendermos. O resultado disso tudo, hoje, é que moro na França, tenho um marido maravilhoso, que eu amo demais da conta e temos uma filha espoleta! E aquele meu ex namorado que me abriu os olhos (que a minha família era contra e que foi motivo de guerras), é Procurador do Ministério Público Federal, ou seja, de burro nunca teve nada!
Extraído de um depoimento na Comunidade de Apoio a Ex-Mórmons do Facebook 2017
Membros que levam vida dupla é o que mais tem na Igreja. Eu não sei detalhes da história, mas como é que pode um pai expulsar a filha de casa... hoje sou pai... dificil entender uma coisa dessas. Aos de fora, as moças e rapazes mórmons parecem meio bobos mesmo, pois são bitolados e acreditam em coisas bobas, só fui perceber isso depois que me afastei.
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