O americano Elder
Hawkins (foto), 21, passou 23 meses nas Filipinas como missionário da
Igreja Mórmon. Disse que perdeu a conta das abordagens às pessoas, que eram
assim:
"Olá! Meu nome
é Elder Hawkins, e este é o meu companheiro Élder Thompson. Somos missionários
da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e gostaríamos de
compartilhar as verdadeiras palavras de Cristo. Podemos partilhar com você a
nossa mensagem da expiação de Cristo?"
A sua adaptação nas
Filipinas foi difícil por causa do choque cultural e da diferença de qualidade
de vida. “Chorei todas as noites da minha primeira semana nas Filipinas.”
Ele teve de morar
em uma casa sem banheiro e infestada de ratos e baratas. E temeu pela sua
segurança. Rezou para que não levasse um tiro ou fosse molestado sexualmente.
Contudo, o que mais
incomodava Hawkins foram as contradições das doutrinas mórmons.
Contou que, antes
mesmo de iniciar o seu trabalho de “campo” nas Filipinas, nas nove semanas de
sua preparação no Centro de Treinamento de Missionários, em Utah, ele começou a
questionar os ensinamentos da religião.
Hawkins se lembrou
do dia em que, na sala de aula, ao estudar a seção 132 da Doutrina e Convênio,
achou que não estava conseguindo entender o texto, que, suspeitava, era
intrincado demais para seu conhecimento sobre o mormonismo.
Pela sua
interpretação d\quele texto, o mórmon tem de se casar com pessoa da mesma
religião e em templo da Igreja. Se não for assim, ele não obterá a vida eterna.
E terá de se conformar com a designação de sua mulher para um homem mais digno,
aqui na Terra e no céu.
Hawkins disse que,
na época, ficou preocupado porque, pelo seu entendimento, parte de sua família
e de seus melhores amigos que não são mórmons estavam sem esperança alguma de
salvação, com lugar já garantido no inferno.
Ele procurou
esclarecimentos de seus professores, mas o que obteve foi a confirmação do que
já suspeitava ser a doutrina mórmon.
Por procurar acabar
com suas dúvidas, ele foi repreendido pelos professores por estar dando ouvidos
ao Satanás, colocando o livro sagrado sob suspeição.
Além disso, líderes
da igreja escreveram na ficha dele que tinha dificuldade para se levantar cedo
e que suas opiniões sobre o aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo eram
“vergonhosas”.
Depois, nas
Filipinas, Hawkins ficou constrangido ao receber a incumbência de ter de
investigar por que um fiel — o Ed, pai de quatro filhos — estava pagando, como
dízimo, menos de 10% de seus vencimentos, descumprindo o texto bíblico.
Para fortalecer
seus argumentos contra a desobediência de Ed, Hawkins se aprofundou no estudo
da Bíblia e foi quando tomou consciência dos horrores propagados pelas
escrituras: genocídios, estupro, mutilação genital, escravidão, poligamia,
incesto e subjugação das mulheres.
Ele resolveu,
então, aprofundar sua leitura do Livro do Mórmon na expectativa de encontrar,
ali, “correções” da Bíblia.
Constatou, contudo,
que o “livro mais perfeito desde sempre” corroborava a Bíblia, além de haver,
entre as duas escrituras sagradas, contradições e desencontro de informações.
Quando voltou para
os Estados Unidos, Hawkins procurou esclarecimentos em outras leituras e na
internet. Começou pelo autor Reza Aslan, cujo livro “ Zealot: The Life and
Times of Jesus of Nazareth” reconta a vida de Jesus do ponto de vista histórico
e humanista.
Um autor foi
levando a outro, e Hawkins acabou chegando a Christopher Hitchens, Sam Harris e
Richard Dawkins, escritores ateus. “E o diabo então começou a me arrastar para
o inferno”, disse Hawkins em tom de brincadeira.
E ele próprio se tornou ateu, passando a experimentar o prazer da liberdade de
pensamento.
“Claro, isso não
ocorreu com tranquilidade”, disse. “Meus parentes mais próximos e amigos
mórmons ficaram chateados. Minha família se recusa a falar sobre o assunto.
Para ela, eu sou um fracasso. Minha mãe chorou quando soube da minha
desconversão. Ela acha que o seu filho está indo para o inferno. E eu ainda
estou tentando lidar com essa angústia dela.”
Hawkins renunciou
oficialmente a sua fé em 2013. Atualmente, ele estuda ciência política e
filosofia na Universidade de Utah. Pretende ser advogado.
Ele citou Hitchens
para resumir como se sente hoje: “Assuma o risco de pensar por si próprio. Em
compensação, receberá mais felicidade, beleza, verdade e sabedoria”.
Leia mais em: http://www.paulopes.com.br/2014/11/missionario-questiona-doutrina-mormon-e-se-torna-ateu.html#ixzz3O57HrO3v
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